12 de abril de 2009

Memorial pré montagem CEFET 2009.1


Fortaleza 12 de abril de 2009, domingo de páscoa.
Decidi fazer uma das muitas páginas do memorial da nossa turma, logo no domingo de pasço, no dia da queimação do Judas, constatando o quanto fui sagrado e profano estes dias. Na sexta-feira santa, comi carne, praticamente um rodízio, frango, porco e carne vermelha, só depois da pajelança realizada foi que me lembrei do pecado da gula e do dia que os cristãos reservaram para comer peixe, mas depois ri, dei de ombros e me satisfiz em constatar que desde quando comecei a fazer teatro esses dogmas e estigmas não fazem mais parte do meu cotidiano, respeitosamente os religiosos a parte, vi que por causa do teatro muitos e muitos dogmas o teatro assim me processou em conceitos e novos conceitos, me refizeram em melhor pessoa, em mais amigo e mais e mais paciente com o que os outros pensam da nossa arte da nossa profissão, diria até uma paciência de freira com o perdão de do trocadilho.
Sim, pois há de se ter muita paciência com os que administram o nosso mercado de trabalho, com os que ofertam vagas de empregos e ou estágios onde temos que fazer algo mais que lhe dar somente com artes cênicas. Não quero aqui puxar um discurso partidário, e ou político, mas quero refletir uma realidade que aprendi a sobrevier com ela, à realidade de fazer arte em um estado onde nem as prioridades são priorizadas, então como dignificar uma profissão onde sequer o Banco Real nos aceita como profissão reconhecida que me seja dado um crédito para abrir uma conta universitária?
Como dignificar? Como?
Há uns dias atrás na turma de iniciação a estética da arte onde estou pagando uma disciplina em atraso, ocorreu um fato que eu não acreditei no que vi: uma universidade particular precisava de atores para um evento e quando perguntei quanto seria o cachê a resposta não me surpreendeu, não teria sequer ajuda de custo, mas o que me assustou foi o conformismo com que uma recém aluna de um curso superior em Artes Cênicas, disse aos colegas que teatro é assim mesmo, não tem pagamento, com um ar conformista e submisso que me revoltou e me fez discursar a favor de mim pelo menos, tive que dizer o óbvio que do dia da matrícula em diante nós já caminhávamos por um profissionalismo e que isso seria um impulso para mudar essa herança de que teatro não tem dinheiro e que qualquer participação de um ator, não mereça ser remunerada, saí da sala sem acreditar no que vi e muito revoltado em pensar que ainda tem artista que pensa assim, tão alternativamente, teatro é arte, mas também é vida e digo vida quando tentamos viver dela, para ela e por ela, mas sem esquecer que como todos, comemos, bebemos, pagamos contas e que para isso precisamos nos levar mais a sério, nos respeitar para que nos respeitem reclamar sim, reivindicar sim, protestar sim, chega dessa submissão elisabetana, sem essa de pão e circo, sem essas de ouvir aquela frase: Ah só podia ser o povo do teatro mesmo!
Não, pode ser o povo do circo da dança da arte de um modo geral, somos profissionais limpos, livres de maracutaias e de jogatinas políticas, a bem da verdade somos vítimas dessas manipulações.
Assim como todas as profissões somos importantes, somos mantenedores de um bem inatingível por qualquer crise ou intempérie, somos os que levamos um bem imaterial, a cultura adiante, aos quintais, as praças, as escolas e sobre tudo aos corações de quem nos vêem.
Sejamos representados por nossas vozes, nossas mãos, pés e olhos vivos, que notificam a vida que passa logo ali nas ribaltas, vamos tocar a frente com nossos vigorosos passos, o nosso processo, essa não é a formatura, será mais uma das formaturas que teremos na nossa vida de artista. Não temos que provar para ninguém o quanto somos, pois assim já sabemos e seremos sempre e sempre mais.

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